domingo, 8 de março de 2009

o filho de minhas tristezas

"confesso que hoje é difícil resistir aos apelos da morte. mais que nunca fica claríssimo o fato essa tristeza nunca ir embora, só adormecer. que se morresse, não voltava. mortos não voltam. quisera eu não voltar. talvez assim, o vazio espalhado e cortante no meu peito morresse também. alívio, só desejo alívio. para cada dor e cada fracasso, que parece me cortar ardentemente em lâminas. enfim, cada parte de mim, pois sou feito apenas disso. não adianta tentar ver vitrines. meu reflexo aparece nelas, transmutando o abajur em forma de globo terrrestre. não adianta tentar fugir, só a não-existência acabaria com esse martírio burro que é viver. talvez a vida de cada um seja uma paixão, como a de cristo. mas cadê a epifania? e cadê a coragem, que eu não vejo? onde ela se esconde em mim, se é que existe? eu sou o fracasso completo"

depois de escrever tudo isso, benoni viu a própria imagem defenestrando-se e caindo no espelho d'água, lá embaixo no hall do prédio. mas foi só fantasia, porque percebeu que não havia feito nada, e nem faria. não que não sentisse vontade - não era valente o suficiente pra isso. até no suicídio ele fracassava.