domingo, 26 de julho de 2009

destino

vejo cidades ao longe
e enxergo almas desertas
não como existências secas
ocas
é vida que tremula e tange
o que há em mim
mas se esconde
e já não habita
a não ser em segredo
todo lugar onde eu esteja
nada segue a razão inicial
é tudo plano alternativo
eu vivo uma eterna situação emergencial
que urge, mambembe, feita de improvisos
e nunca acaba
sempre plena de remendos e atalhos
cadê o destino?
quero uma raiz
e uma moira
pelo menos
mais dedicada.

vcf 21.06.09

sábado, 25 de julho de 2009

prisão

a terrível sensação
de sentir-se presa
pelo teto azul
com nuvens
explícita a minha prisão:
meu olhar
e tudo que é visto -
que se corrompe.

terça-feira, 21 de julho de 2009

o teu olhar, tão meu, sempre tão pleno de afeto, sumiu. e eu sucumbi, e tu nem soubestes. mas eu, que sofri, sempre soube... porque sempre foi claro como uma nuvem, tudo isso.

sábado, 11 de julho de 2009

torradas

do alto, ela só podia ver a janela. sozinha, mas sem solidão, ouvia os sons do sobrado. família reunida, torradas, requeijão, era tarde, havia crianças naquela casa. pensava na sua criança, que nem era tão dela. e imaginava como seria quando tivesse a sua, própria, tão sonhada. imaginava que quando fosse mãe, seria a melhor que já existiu. a natureza destrutiva, sempre tão cáustica e arrebatada de emoções parecia apaziguar toda vez que pressentia o instinto maternal que sussurrava dentro de si. crianças. ai, como o mundo é mau, como a vida é dura, como colocar mais um ser nesse sofrimento mundano? sua parte mais sagrada às vezes parecia um egoísmo. porque talvez seja muito tolo pensar que se pode criar um ser e dar a ele todas as condições de viver em paz. ah, mas sempre há a ilusão de poder controlar o universo pequenino em volta de um humano, imenso e vastíssimo dentro de si. será egoísmo querer dar vida a um ser que ainda não existe, trazer para o plano profano das ilusões inevitáveis o ser que se pretende ser o mais amado que já houve? não, ela já não podia pensar assim, viver era mais que o que ela tinha. tão jovem, e já necessitada de algo que desse continuidade à si mesma... filhos são eternamente filhos, e a eternidade fascina cada um que tem o pecado dentro de si. e talvez o pecado entre em cada um a partir do primeiro respirar, assim que se procura com a dor de inflar os pulmões virgens em busca da primeira lufada de ar. apagava cada cigarro pensando que a vida dela um dia seria plena, com crianças, lar imaculado e torradas. cada um tem os sonhos que merece.