quarta-feira, 22 de abril de 2009

me diz, desse teu jeito de se expressar... da forma como tu andas. do brilho do teu olhar quando tu falas de coisas simples, tão simples, que parecem ter todo o mistério do universo dentro de si... me conta desse jeito que você olha pros carros ao atravessar a rua, tão infantil, meu deus! mas era esse olhar que eu queria pra mim. não pra mim, como posse, mas pra mim como companhia. sabe, eu penso que talvez fosse melhor nem ter me aproximado de você porque isso de intimidade só fode tudo. é, fode, mesmo. como assim, eu, tão lady, usando essa espressão?!? mas fode mesmo, fazer o quê...? é, devia ter ficado calada, em cada verso que eu guardo como coisa íntima, profunda... mas eu falo demais, sempre morro assim, feito peixe, pela boca. e nem morro de todo, fico só capenga, pela metade, cada vez mais. é... nem eu me aguentaria, se fosse você. mas me diz: a culpa é de quem?

ninguém tem culpa, outra vez.

vou me foder de novo.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

"olhando aqui, agora, meus álbuns, a minha história contada por fotografias, me deu um estalo e eu nem sei se devia dizer. engraçado no meio de tantas imagens minhas, da minha família, dos meus amigos mais chegados, ter tanta foto tua. tanta, tanta, mas tanta que parece que talvez tua vida esteja mais atrelada a minha do que eu ouso pensar. será que minha biografia não é protagonizada só por mim? não é insegurança, não é egoísmo, não é tentativa de parecer indiferente e fria. não. é curiosidade, mesmo. porque sinceramente não sei cortar as partes onde você aparece, não sei simplesmente desfocar a tua presença sempre tão cúmplice, do meu lado em cada momento, sorrindo de um jeito sereno como quem tem certeza de coisas que ninguém mais sabe. um sorriso tão calmo que chega a ser segredoso. fico me perguntando se tivéssemos gerado um filho, sei lá. seria ruim, assim tão jovens, mas talvez assim eu pudesse justificar essa tua presença nas histórias que eu conto, nas minhas lembranças... não é que eu te ame do mesmo jeito, não é isso. nem o exato contrário. a questão é que o amor nesse momento é o que menos importa, é acessório. o que eu queria entender é o porquê de às vezes parecer que somos o destino um do outro, e que esse hiato é só pra que possamos nos tornar perfeitos e merecedores um do outro. ou mais imperfeitos, e por isso mesmo mais tolerantes um com o outro. eu não sei."

daí isabelle dobrou a folha da carta e suspirou, com um pesar de quem não consegue chegar a conclusão alguma. procurou um envelope e não achou. merda, se igor ainda estivesse ali, sempre perto, ela teria a quem perguntar onde estavam. e ele saberia a resposta. porque ele, irritantemente, sempre sabia alguma coisa sobre tudo.

domingo, 5 de abril de 2009

faz tempo

Tenho sonhos em preto e branco, ouço vozes roucas, chamados constantes. Vivo em uma eterna fantasia, falo sozinha, irrito-me com o perfeito. Sou o retrato da demência. Carrego em mim todas as neuroses e psicoses em elevado estágio de evolução, minha essência é loucura e meu espírito é delírio. Possuo as marcas do desvario: a credulidade na verdade inexistente, a busca pela felicidade perdida não sei quando, a desonfiança nos que se dizem normais e olhos que miram o infinito mesmo fitando um objetivo material e frívolo. Ou em frente ao espelho. Principalmente em frente ao espelho, aliás... Cada dia não reconheço os traços do caos, a ebulição íntima que me toma a todo momento se faz visível em minha face maldita que não consegue resistir aos encantos da alma que nada faz além de sua própria vontade baseada em razões néscias e entorpecidas. A sobriedade que me restara transformou-se em fumaça, e de fumaça em nuvem, que precipitou-se em cima de meu reino utópico e fez chover radiação cancerígena sobre os sentimentos. O átomo desencadeante e quebrado fui eu mesma, partilhada, alterada e excitada, na constante venda de meus princípios duvidosos e valores baratos, de meus desejos vadios e provenientes da desordem. Tudo em mim é xepa, sou a carne gordurosa e nervurenta que restará entre as migalhas de tua mesa, ao menos que resolva ingerir-me e infectar tuas entranhas com o sabor putrefato que é inerente a mim. Conquistei a excelência da vagabundagem, busco o primor da ironia. Os apuros me são enojantes e a perfídia me acena ao lado. Se meretriz rima com perfuratriz, serei eu a enfiar-me me ti, e retirar o que ainda pode haver de bom entre tuas tripas com minha pua blindada com o significado alienado da extravagância presente no mundo sórdido do qual fazes parte. De podridão e devaneios me faço. E de sofrimento e sarcasmo me alimento, nada mais posso fazer senão tentar iludir-me que a lúcida sou eu e todos os outros padecem de distúrbios gravíssimos e incuráveis. Perjuro a própria insensatez espontâneamente de vez em quando para nem à ela me aprisionar. Minha sólida base é a ilusão, e o clamor da moral só tem de mim a resposta da surdez. Meus ruídos ásperos, cavos e espalhafatosos só servem pra sinalizar meu estado. A estridência de que me utilizo é falsa, mordaz e objeto de meu desfrute e consequencia da alucinação permanente. Me recuso ao tratamento por saber que para mim não há cura, uma vez que não há doença. Sou a dualidade em pessoa, o paradoxo encarnado, as duas faces da moeda em sensações, o antagonismo revelado, enfim, sou eu. Nada do que faço tem razão lógica dentro de si, tudo é infundado, desprovido de todo e qualquer respaldo imaginado. Sou o fruto da desordem, o resultado da desilusão, o deleite criminoso das paixões liberadas. Quando nada mais importar, e só quiseres birncar com as fartas e nefastas possibilidades, quando não tiverdes mais esperanças, quando nada mais possa ruir a não ser teu frágil fôlego vital, quando fores abandonado e cruelmente rejeitado, quando te tornares escravo das circunstâncias, serás tomado pela mesma essência que agora me compõe, te tornarás meu irmão idêntico em espírito e corpo, terás o brilho da insanidade no fundo das janelas de tua alma, que enganará e só se identificará realmente para teus novos e compreensivos parentes, singelos psicopatas, monstros mentais ensandecidos.