segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Valéria II - O retorno

Então, muito tempo eu deixei esse espaço abandonado, mesmo que sem querer [querendo]. Como uma faxina, adiei, adiei, até tomar coragem para fazer. Muito tempo se passou, mais de um ano, quase um e meio.
Nesse tempo eu escrevi, claro, mas tudo muito íntimo e pessoal demais e então esperei até que eu escrevesse coisas menos flagrantes outra vez. O que não aconteceu. Corro o risco de fazer daqui meu diário pessoal, mas não tem escapatória. Não há como não falar da minha vida, que mudou tanto. Todas as coisas novas e surpreendentes me fazem namorar com ela, ainda descobrindo - "O que é isso meu Deus!?".
Milhares de coisas aconteceram e ajudaram a mudar os contornos que eu tinha antes, redefinindo quase tudo. Meus papéis sociais mudaram, meus conceitos de normalidade, minhas aspirações, meus desejos, meus medos, meu modo de enfrentar a vida, meus interesses. Para coisas e pessoas.
O que quero dizer é que eu mudei e não tem como o que eu escrevo não mudar. É um beco sem saída. Agora percebi - isso aqui é um pedido de desculpas pelo que eu ainda devo escrever.

domingo, 26 de julho de 2009

destino

vejo cidades ao longe
e enxergo almas desertas
não como existências secas
ocas
é vida que tremula e tange
o que há em mim
mas se esconde
e já não habita
a não ser em segredo
todo lugar onde eu esteja
nada segue a razão inicial
é tudo plano alternativo
eu vivo uma eterna situação emergencial
que urge, mambembe, feita de improvisos
e nunca acaba
sempre plena de remendos e atalhos
cadê o destino?
quero uma raiz
e uma moira
pelo menos
mais dedicada.

vcf 21.06.09

sábado, 25 de julho de 2009

prisão

a terrível sensação
de sentir-se presa
pelo teto azul
com nuvens
explícita a minha prisão:
meu olhar
e tudo que é visto -
que se corrompe.

terça-feira, 21 de julho de 2009

o teu olhar, tão meu, sempre tão pleno de afeto, sumiu. e eu sucumbi, e tu nem soubestes. mas eu, que sofri, sempre soube... porque sempre foi claro como uma nuvem, tudo isso.

sábado, 11 de julho de 2009

torradas

do alto, ela só podia ver a janela. sozinha, mas sem solidão, ouvia os sons do sobrado. família reunida, torradas, requeijão, era tarde, havia crianças naquela casa. pensava na sua criança, que nem era tão dela. e imaginava como seria quando tivesse a sua, própria, tão sonhada. imaginava que quando fosse mãe, seria a melhor que já existiu. a natureza destrutiva, sempre tão cáustica e arrebatada de emoções parecia apaziguar toda vez que pressentia o instinto maternal que sussurrava dentro de si. crianças. ai, como o mundo é mau, como a vida é dura, como colocar mais um ser nesse sofrimento mundano? sua parte mais sagrada às vezes parecia um egoísmo. porque talvez seja muito tolo pensar que se pode criar um ser e dar a ele todas as condições de viver em paz. ah, mas sempre há a ilusão de poder controlar o universo pequenino em volta de um humano, imenso e vastíssimo dentro de si. será egoísmo querer dar vida a um ser que ainda não existe, trazer para o plano profano das ilusões inevitáveis o ser que se pretende ser o mais amado que já houve? não, ela já não podia pensar assim, viver era mais que o que ela tinha. tão jovem, e já necessitada de algo que desse continuidade à si mesma... filhos são eternamente filhos, e a eternidade fascina cada um que tem o pecado dentro de si. e talvez o pecado entre em cada um a partir do primeiro respirar, assim que se procura com a dor de inflar os pulmões virgens em busca da primeira lufada de ar. apagava cada cigarro pensando que a vida dela um dia seria plena, com crianças, lar imaculado e torradas. cada um tem os sonhos que merece.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

me diz, desse teu jeito de se expressar... da forma como tu andas. do brilho do teu olhar quando tu falas de coisas simples, tão simples, que parecem ter todo o mistério do universo dentro de si... me conta desse jeito que você olha pros carros ao atravessar a rua, tão infantil, meu deus! mas era esse olhar que eu queria pra mim. não pra mim, como posse, mas pra mim como companhia. sabe, eu penso que talvez fosse melhor nem ter me aproximado de você porque isso de intimidade só fode tudo. é, fode, mesmo. como assim, eu, tão lady, usando essa espressão?!? mas fode mesmo, fazer o quê...? é, devia ter ficado calada, em cada verso que eu guardo como coisa íntima, profunda... mas eu falo demais, sempre morro assim, feito peixe, pela boca. e nem morro de todo, fico só capenga, pela metade, cada vez mais. é... nem eu me aguentaria, se fosse você. mas me diz: a culpa é de quem?

ninguém tem culpa, outra vez.

vou me foder de novo.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

"olhando aqui, agora, meus álbuns, a minha história contada por fotografias, me deu um estalo e eu nem sei se devia dizer. engraçado no meio de tantas imagens minhas, da minha família, dos meus amigos mais chegados, ter tanta foto tua. tanta, tanta, mas tanta que parece que talvez tua vida esteja mais atrelada a minha do que eu ouso pensar. será que minha biografia não é protagonizada só por mim? não é insegurança, não é egoísmo, não é tentativa de parecer indiferente e fria. não. é curiosidade, mesmo. porque sinceramente não sei cortar as partes onde você aparece, não sei simplesmente desfocar a tua presença sempre tão cúmplice, do meu lado em cada momento, sorrindo de um jeito sereno como quem tem certeza de coisas que ninguém mais sabe. um sorriso tão calmo que chega a ser segredoso. fico me perguntando se tivéssemos gerado um filho, sei lá. seria ruim, assim tão jovens, mas talvez assim eu pudesse justificar essa tua presença nas histórias que eu conto, nas minhas lembranças... não é que eu te ame do mesmo jeito, não é isso. nem o exato contrário. a questão é que o amor nesse momento é o que menos importa, é acessório. o que eu queria entender é o porquê de às vezes parecer que somos o destino um do outro, e que esse hiato é só pra que possamos nos tornar perfeitos e merecedores um do outro. ou mais imperfeitos, e por isso mesmo mais tolerantes um com o outro. eu não sei."

daí isabelle dobrou a folha da carta e suspirou, com um pesar de quem não consegue chegar a conclusão alguma. procurou um envelope e não achou. merda, se igor ainda estivesse ali, sempre perto, ela teria a quem perguntar onde estavam. e ele saberia a resposta. porque ele, irritantemente, sempre sabia alguma coisa sobre tudo.