domingo, 8 de março de 2009

o filho de minhas tristezas

"confesso que hoje é difícil resistir aos apelos da morte. mais que nunca fica claríssimo o fato essa tristeza nunca ir embora, só adormecer. que se morresse, não voltava. mortos não voltam. quisera eu não voltar. talvez assim, o vazio espalhado e cortante no meu peito morresse também. alívio, só desejo alívio. para cada dor e cada fracasso, que parece me cortar ardentemente em lâminas. enfim, cada parte de mim, pois sou feito apenas disso. não adianta tentar ver vitrines. meu reflexo aparece nelas, transmutando o abajur em forma de globo terrrestre. não adianta tentar fugir, só a não-existência acabaria com esse martírio burro que é viver. talvez a vida de cada um seja uma paixão, como a de cristo. mas cadê a epifania? e cadê a coragem, que eu não vejo? onde ela se esconde em mim, se é que existe? eu sou o fracasso completo"

depois de escrever tudo isso, benoni viu a própria imagem defenestrando-se e caindo no espelho d'água, lá embaixo no hall do prédio. mas foi só fantasia, porque percebeu que não havia feito nada, e nem faria. não que não sentisse vontade - não era valente o suficiente pra isso. até no suicídio ele fracassava.

9 comentários:

l u a * disse...

eu gosto menos de quem fracassa no suicídio. e bebo mais a cada tentativa frustrada, obrigada.

Arethusa Soares disse...

"talvez a vida de cada um seja uma paixão"

intrigante... como todos os teus textos. Beijo!

Anônimo disse...

Talvez a morte não seja o melhor caminho, apenas uma tentação, afinal, se temos apenas uma vida pra desperdiçar, uma vida boa ou com aventuras,seria uma boa maneira de aventurá-la.

Anônimo disse...

Um fracasso interessante.

E é, a morte apela muito.

Bruno disse...

creio que a morte é começo. e que pra começar de novo, é preciso antes terminar o que se veio a fazer.

somos nosso próprio fracasso. nossa própria sorte.

um beijo.

PR disse...

senti uma semelhança entre mim e benoni.
te amo valéria.

Ғhαel•CЯavo disse...

Morte é ausência de vida, creio eu. A vida não acaba, apenas muda de lugar, deixando para trás suas antigas impressões físicas... Quão horrível será pra alguém q se mata descobrir q continua vivo???

gostei do teu txto... fiquei assustado pensando q era teu. haushauhusauhu

muito bom!

Paterson Franco disse...

que foda!

Diley Rodrigues disse...

a morte não é a ausência de vida, é a ausência de um eu.

o período entre um eu sair e o outro vir - isso é morrer.

só que o outro uma vez só não vem, e nunca virá